28 de julho
Lendo “Não fossem as sílabas de sábado” senti um aperto no peito porque meu maior medo é me perder dentro da minha própria cabeça mas meu segundo maior medo é perder meu pai tenho pensado muito em morte e não lembro se sempre fui essa pessoa que pensa muito em morte ou se agora me tornei essa pessoa que pensa muito em morte já que uma avó morrendo e muito dela em mim que também estou matando aquela pessoa que não pensava em morte que já fui e já não sou uma pessoa tão leve tão fácil tão sem morte na cabeça porque tão vazia tão desprovida de si mesma e hoje o medo da morte vai comigo mas o temor é a morte alheia e não a minha própria porque eu agora tão cheia de tudo que sou tudo que quero ser não suportaria deixar a morte me tomar um pedaço desse preenchimento sempre que algo se vai fica esse espaço vazio a morte vem e leva o que tem de ser levado e deixa o que precisa deixar que é esse espaço sobrando esse espaço que só se percebe que era espaço quando passa a estar desocupado talvez seja isso talvez o medo da morte seja o medo da desocupação.