17 de agosto
Subir a serra para encarar o  mar alargar os olhos deixar a linha que traça a distância entre a grandeza e o desimportante instaurar outro jeito de ver outra maneira de sentir o que se sente sentada na areia contando as ondas como quem conta os dias olhando as quebras brancas umas tão cheias de si umas mais apáticas como quem olha os dias de eu e você uns tão cheios de nós uns mais esticados esperando o enlace acontecer de novo assim como espero agora que esse mar que me encara de volta leve consigo a lembrança que vai e vem dentro de mim aquela quinta-feira em que o telefone toca e dessa vez é você quem encara o mar enquanto diz vejo o mar diferente porque naquela terceira ou quarta vez em que trocamos palavras e pernas de lugar você me dizia o mar é quem sabe das coisas acolhe o frio e o quente compreende que tudo sempre se move não esquece que sob o azul translúcido está o azul tão escuro e ambos fazem dele o que ele é por isso encarar o mar é uma forma de entender também o que existe dentro de uma cabeça então agora vejo o mar diferente e percebo que te amo você me diz naquela quinta-feira passada há três anos cento e cinquenta e seis semanas mil e noventa e cinco dias que conto em cada uma das ondas tentando respirar levantando hipóteses se uma baleia me engolisse o sufoco seria menos seria estranho e úmido no começo como sempre é mas com o tempo eu aprenderia a tatear as bordas me acostumaria com o cheiro encontraria conforto como nem sempre é mas em nosso caso foi até deixar de ser e fui eu mesma quem disse tudo sempre se move eu falava do mar e então o mar é você.